24 de mai. de 2009

Memorial

Considero “Memorial” um termo muito pomposo para alguém simples como eu. Mas, pediram para eu fazer... Então, acompanhemos o ritmo de minhas memórias. Lembro-me que só tivemos energia elétrica em minha casa após meus 8 anos de idade. Uhm... Acabo de me lembrar do poema de Casimiro de Abreu “Meus oito anos”. Nossa! Faz tempo! Muito tempo! Eu nasci dia 7 de outubro de 1964, em Rio do Oeste, no estado de Santa Catarina, mas mudamo-nos para Guaramirim, no mesmo estado, quando eu tinha 4 anos, em agosto de 1969. Embora eu goste da cidade em que nasci, é Guaramirim que mora no meu coração. Foi aqui que construí minha história. Voltando ao tempo em que não tínhamos energia elétrica em casa... Talvez tenha vivido meus melhores anos, ou pelo menos os mais divertidos, sei lá... Creio que foi lá, naquele tempo longínquo que começou a história do meu letramento. Foi o meu primeiro contato com as letras; não escritas, faladas. À noite nos reuníamos na varanda de nossa antiga casa. Era ali, principalmente, que meu pai e minha mãe contavam histórias: do tempo em que eram crianças, do tempo que estudavam; histórias de mortos que apareciam, histórias que os pais e tios e conhecidos haviam contado a eles. O mesmo acontecia com meus tios em suas raras visitas. E não importava quantas vezes eles repetissem a mesma história, era sempre como da primeira vez. Entrei na escola em 1971 e, segundo minha irmã, eu não sabia sequer segurar um lápis. Bem... Isso eu não sei se é verdade, não me recordo. Alfabetizei-me com a cartilha “Caminho Suave”. E como foi “suave” aprender as primeiras letras! Sempre amei estudar. Brincava de escolinha com meus amigos ou sozinha mesmo. Escrevia com carvão em tábuas ou até nas paredes do nosso rancho (meus pais não se importavam). No fim da 1ª série, recebi de presente da minha professora “Marlene Olinger”, a quem eu considerava uma fada, o livro “Alice no país das maravilhas” por ter sido a melhor aluna, e “Peter Pan” por não haver tido nenhuma falta. Também recebi um, na 3ª série, da Profª Olga Chiodini, “Pom Pom e Pam Pam”. Nesse ano, dividi o primeiro lugar com um colega de classe. Imaginem! Livros de presente! Eu os tenho até hoje. Infelizmente não são muitas as pessoas que presenteiam com livros. Como eu poderia não gostar de ler? Não me restam dúvidas de que o contar histórias desperta o desejo da leitura, o desejo das letras. Hoje eu conto histórias, declamo poemas e vejo como isso aproxima as pessoas de mim, e não só as crianças. Lembro-me do tempo em que ministrei a disciplina “Literatura Infantil” no Ensino Superior (em 2000). Dentre tantas experiências, uma em especial, chamou-me a atenção: uma aluna confessou nunca terem lhe contado histórias na infância e, consequentemente, ter repetido o fato com seu filho, que na época, contava com 20 anos. Admitiu também, respondendo ao meu questionamento, que seu relacionamento com o filho era um tanto “distante, frio”. Lamentei o fato, que reafirmou minha crença de que as histórias nos fazem viver. E a partir daí, também, ratifiquei o incentivo à leitura, à contação de histórias (fictícias ou não), declamação de poemas... Negar a alguém o direito a ouvir e/ou ler histórias é negar-lhe a existência. Estou sendo dramática? Creio que não! Mas estou aberta a contestações. Bem, aos 15 anos (loucura!) lecionei pela primeira vez... 1ª e 4ª série, numa escola multisseriada. Qual foi o livro escolhi para a alfabetização dos meus alunos? Acreditem! “Caminho Suave”. Isso mesmo. Em fim, trabalhei com alfabetização por 7 anos. Hoje atuo nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio com a disciplina de Língua Portuguesa e Literatura, na cidade de Guaramirim, onde vivo. Mazilda Fiamoncini

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